Como Florianópolis lida com o desafio de escalar seu ecossistema de startups
Florianópolis consolidou sua posição como um dos ecossistemas de startups mais dinâmicos e coesos do Brasil. Com cerca de 800 startups ativas, a capital catarinense se destaca pelo forte senso de comunidade entre empreendedores — 85% superior à média global — e por sua capacidade de atrair e reter talentos: 34% dos fundadores migraram de outras regiões e 96% pretendem permanecer na cidade. A combinação de qualidade de vida, densidade empreendedora e instituições de apoio criou um ambiente fértil para a inovação tecnológica no Sul do país.
Esses dados fazem parte do Assessment of the Florianópolis Startup Ecosystem, relatório elaborado pelo Startup Genome, líder mundial em consultoria de políticas públicas para o desenvolvimento de ecossistemas de startups, em parceria com o Sebrae Startups. O estudo marca a estreia da metodologia internacional no Brasil e inaugura uma nova fase na análise estratégica de ecossistemas brasileiros, permitindo comparações diretas com mais de 150 cidades no mundo. “Com esta iniciativa, nosso compromisso estratégico com o Brasil e a América Latina ganha nova força. Nossa missão é desbloquear o potencial dos ecossistemas de startups brasileiros e projetá-los, com destaque, no cenário global de inovação e empreendedorismo”, diz Naira Bonifácio, Diretora do Startup Genome LatAm.
O diagnóstico confirma uma percepção que já vinha sendo discutida entre agentes locais: Florianópolis amadureceu como ambiente de negócios inovadores, mas ainda não atingiu escala global. O principal gargalo é o capital de risco local limitado. “Temos uma base muito sólida, com startups de alto potencial, programas de apoio bem estruturados e uma comunidade conectada”, destaca Alexandre Souza, Gerente de Inovação do Sebrae SC. “Mas sem o capital certo na hora certa, o risco é perder empresas para outros polos mais capitalizados.”
A análise do Startup Genome posiciona Florianópolis na fase de “ativação avançada” do ciclo de vida dos ecossistemas. Para avançar à fase de “globalização”, o relatório estima que a cidade precisa superar a marca de mil startups ativas e manter um ritmo de pelo menos uma grande saída (exit) de US$ 100 milhões por ano — patamar que permitiria reinjetar capital no ecossistema, atrair atenção internacional e consolidar uma narrativa de sucesso sustentado.
“Os dados estratégicos que nosso estudo trouxe à luz para o ecossistema de Florianópolis são um divisor de águas. Com essa compreensão aprofundada do que é vital para a sua alavancagem, a estruturação de uma estratégia de financiamento público e privado não é apenas crucial, mas se torna a chave indispensável para desenhar o futuro próspero e inovador da região”, completa Naira Bonifácio, do Startup Genome LatAm.
Desafios além do capital
A lacuna de financiamento, no entanto, não é o único desafio. O relatório também alerta para a necessidade de transformar os pontos fortes do ecossistema — como a qualidade de vida e a coesão entre os atores locais — em elementos ativos de competitividade. Ou seja, usar esses atributos como vantagem para atrair investidores, fundadores e talentos estratégicos.
“Florianópolis pode se posicionar como um modelo para a inovação no Brasil”, observa Diego Brites Ramos, presidente da ACATE. “O avanço dependerá da nossa capacidade de transformar uma vantagem social, a colaboração, em vantagem econômica. Isso significa conectar capital, talento e ambição global a partir de uma estratégia de longo prazo. Os dados mostram que chegamos a um grau de maturidade que já não depende apenas de empreender bem, mas de escalar com visão internacional e reinvestir resultados no próprio ecossistema.”
Na avaliação dos especialistas, o momento é de transição: a cidade já validou seu modelo local de inovação e agora precisa escalar. A boa notícia é que há ativos importantes à disposição — e um consenso crescente de que o próximo passo deve ser planejado com base em dados, comparabilidade internacional e coordenação institucional.
Com vocação para setores como tecnologia da informação, saúde, educação, meio ambiente e serviços digitais, Florianópolis tem potencial para se tornar não apenas uma referência nacional, mas uma ponte entre o Brasil e ecossistemas internacionais. Para isso, será necessário consolidar uma estratégia de longo prazo que alie capital, políticas públicas e ambição coletiva. “A missão agora é transformar capital social em capital financeiro. O espírito colaborativo é uma vantagem rara — e pode ser a chave para consolidar o futuro do ecossistema catarinense no mapa global da inovação”, conclui Alexandre Souza, do Sebrae SC.
Florianópolis: modelo global de ecossistema em cidades de médio porte
A parceria entre o Sebrae Startups e o Startup Genome foi anunciada no último mês de junho, quando foi lançado também o Global Startup Ecosystem Report 2025 (GSER), assinado pela consultoria internacional. O relatório, considerado a principal referência sobre ecossistemas de startups no mundo, destacou Florianópolis como um dos principais modelos globais de ecossistema de startups em cidades de médio porte, mencionando a cidade como exemplo de como restrições geográficas podem ser transformadas em vantagem estratégica. No GSER 2025, a capital catarinense também apareceu no Top 20 dos ecossistemas latino-americanos, ocupando a 13ª posição.
Principais insights do Florianópolis Startup Ecosystem Assessment:
• O ecossistema da capital catarinense é impulsionado por uma comunidade coesa e unida. O apoio entre fundadores é 85% superior à média dos ecossistemas pares, e o senso de comunidade excede os pares em todas as categorias.
• Florianópolis é um ecossistema desejável, atraindo fundadores de todo o país. 34% dos fundadores migraram suas startups para a cidade, e 96% planejam permanecer.
• Florianópolis se estabelece como o 5º ecossistema de startups mais financiado do Brasil e ocupa a 3ª posição em número de rodadas, com 176 rodadas levantadas entre 2020 e 2024.
• O ecossistema demonstra uma profunda lacuna de financiamento, particularmente na Série A. A mediana das rodadas de Série A em Florianópolis é de $3,085 milhões, ficando abaixo de São Paulo ($5,558M) e Belo Horizonte ($5,0M).
• O ecossistema está na Fase de Ativação Avançada. Para avançar à Fase de Globalização, a cidade precisa atingir mais de 1.000 startups (atualmente, estima-se 700-800) e produzir sucessos repetidos de $100M+ (um por ano).
• Apesar do forte acesso a desenvolvedores experientes (8% acima dos pares), apenas 2% das startups oferecem stock options a todos os funcionários. Este índice é 92% inferior à média dos ecossistemas pares.
• Florianópolis globaliza a taxas baixas. Há 77% menos fundadores visando mercados globais em comparação com os pares, e a participação de clientes fora da América Latina é 40% abaixo da média global.
• Os fundadores de Florianópolis demonstram baixa conectividade global. Eles realizam, em média, 0,5 viagem por ano para os principais ecossistemas internacionais para fins de negócios, um número muito inferior à média dos pares, que é de 3,5 viagens. As conexões com ecossistemas de topo são, em média, 27% inferiores aos pares.
O relatório completo está disponível para acesso neste link.
*Foto: Eduardo Zmievski/Unsplash
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