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Inédita no país, Rede de Inovação se torna estratégia de Florianópolis para atrair empreendedores e investir na tecnologia local

Criada há dois anos, parceria entre a Prefeitura Municipal e Acate é responsável pela gestão de quatro Centros de Inovação (como o CIA Sapiens, foto acima) e atua também como um “agregador” do ecossistema, gerenciando a comunidade empreendedora e apoiando novos negócios

O movimento de startups e o avanço da Nova Economia ajudou a tornar Florianópolis um dos principais celeiros de empreendedores e negócios digitais do país e da América Latina nos últimos anos. Esta onda impulsionou um ecossistema de inovação formado por instituições de ensino, programas de capacitação e projetos de inovação aberta, eventos, além da presença de incubadoras, aceleradoras, fundos de venture capital e grupos de investidores-anjo na região.

Dois movimentos foram especialmente marcantes para o crescimento do ecossistema neste período: a inauguração do Centro de Inovação ACATE (CIA) Primavera, em um corredor de negócios estratégico em Florianópolis – a SC-401, que liga o Centro ao Norte da Ilha – no final de 2015, e a criação da Rede de Inovação, parceria entre a Prefeitura de Florianópolis e a Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), há exatos dois anos.

Enquanto o CIA Primavera se tornou um nova vitrine para o mercado de tecnologia local, reunindo em um único lugar várias empresas e iniciativas que compõem o ecossistema, a Rede de Inovação surgiu para gerenciar os novos Centros que estavam sendo criados na cidade e também para articular uma política de desenvolvimento que envolva setor público, privado e a comunidade de empreendedores.

Iniciativa pioneira no país, a Rede integra quatro centros de inovação na capital catarinense – o CIA Primavera, o CIA Downtown (Centro), o CIA Sapiens (Norte da Ilha) e o Soho (continente) – promovendo eventos, missões técnicas e outros projetos com o objetivo de estimular a cultura de inovação, atrair e capacitar empreendedores, além de gerar novos negócios em Florianópolis.

“Os centros de inovação têm um papel catalisador muito forte no município. Se de um lado eles funcionam como um hub, ou um one stop shop para quem quer empreender no setor de tecnologia ou se aproximar desse ecossistema, de outro têm a missão de incluir a sociedade, e especialmente as comunidades do entorno de cada centro, no âmbito do empreendedorismo, da inovação e da tecnologia”, explica Gabriel Sant’Ana, diretor executivo da Acate.

O objetivo da Acate é levar o modelo de Centros de Inovação a outras regiões de Santa Catarina. Em Joinville, instalou uma unidade do seu programa de inovação aberta (LinkLab), no Ágora Tech Park, centro de inovação do município que iniciou as operações em março de 2019. Em setembro, será inaugurado em Chapecó, no Oeste catarinense, o CIAD, Centro de Inovação ACATE – Deatec, parceria com o polo regional da associação. E várias regiões também estão se organizando para criar iniciativas privadas locais inspiradas neste modelo.

A Rede é um agregador desse ecossistema e também um elemento de diálogo entre entidades e empreendedores“, reforça Marcus Rocha, superintendente de Ciência, Tecnologia e Inovação da Prefeitura de Florianópolis.

Segundo o estudo ACATE Tech Report, a região da Grande Florianópolis concentra mais de 3.941 mil negócios de tecnologia – 32,5% do total instalado em Santa Catarina – que faturam R$ 9,9 bilhões/ano (56% do total no estado), maioria delas formadas por empreendedores locais. Além disso, a Capital possui a maior taxa de empresas de tecnologia por habitante do país, com 5 empresas para cada 1 mil habitantes.

OBJETIVO É INSERIR A POPULAÇÃO LOCAL NA NOVA ECONOMIA

A visibilidade de Florianópolis no ambiente nacional de startups tem atraído a atenção de empreendedores e executivos de outras regiões – seja para instalar operações, investir ou ter um braço de desenvolvimento. A preocupação da Rede de Inovação está justamente em “ordenar” esta demanda, criando uma conexão entre a base instalada e possíveis novos negócios interessados em fazer parte do ecossistema. “O plano estratégico é posicionar a Capital como destino nacional e internacional de atração de empresas. Mas de maneira estratégica, recepcionando dentro do ecossistema, inserindo ela dentro de nossa realidade e respeitando a vocação local”, explica Marcus.

Nós não queremos que Florianópolis se torne uma São Francisco, onde sua população teve que deixar a cidade devido ao alto custo de vida local e dar lugar aos profissionais e empreendedores da área de tecnologia”, compara o diretor executivo da Acate. “Ao contrário, o objetivo com esse projeto é incluir os cidadãos locais para que todos vejam as oportunidades que essa nova economia pode trazer, e também crescer com ela. Por esse motivo, realizamos cursos, eventos e recebemos muitas turmas de estudantes, de todas as idades, nos Centros”.

Estudo recente elaborado pela Rede de Inovação revelou quais os principais critérios que fazem as empresas decidir por se instalarem em determinada cidade. Um dos pontos-chave é a disponibilidade de talentos locais e a qualidade de vida, seguido por fatores como custos (imóveis, salários), ambiente de formação (universidades) e a sofisticação do mercado de trabalho – potenciais parceiros estratégicos e fornecedores que esta empresa pode agregar nesta região.

“Percebemos que, baseado nesses critérios, Florianópolis tem elementos de competitividade muito fortes, como níveis altos de educação, qualidade de vida acima da média nacional e a maior proporção de mestres e doutores do país. Estamos usando este modelo para embasar o planejamento estratégico da cidade”, comenta Marcus.

NOVO CANAL DE ATENDIMENTO ONLINE DÁ SUPORTE A EMPREENDEDORES EM TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL

A Rede de Inovação atua também como um “receptivo” de empreendedores interessados em conhecer o potencial de negócios em Florianópolis. Desde o início das atividades, em 2018, os escritórios de promoção da inovação que funcionam em cada um dos quatro Centros de Inovação  já atenderam cerca de 500 empreendedores, além de receber 462 visitas técnicas que somaram 4.416 participantes de outras regiões e países. Em mais de 400 eventos, os Centros já reuniram um público de 9,6 mil pessoas.

A política de isolamento social resultado da pandemia da Covid-19 obrigou o cancelamento temporário destas atividades presenciais desde março, mas para continuar atendendo remotamente os interessados, a Rede lançou no final de julho deste ano um canal de atendimento online que permite aos empreendedores conhecer as iniciativas de inovação na cidade, tirar dúvidas sobre como abrir negócios, benefícios oferecidos, conexão com linhas de fomento e players do ecossistema.

Além do atendimento online, agora também é possível fazer um tour virtual pelos Centros de Inovação da cidade, um passeio que faz parte do Museu de Habitats de Inovação desenvolvido pelo grupo VIA Estação Conhecimento, formado por professores e alunos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e que busca popularizar o acesso e o conhecimento sobre estes ambientes.

“Os Centros de inovação da rede municipal recebem um número muito alto de visitas, tanto individuais como em grupo. Em um momento como o atual, buscamos às pessoas viver esta experiência de alguma maneira, mesmo à distância, para que possam conhecer nossos espaços. Quando uma criança entra em um lugar como esse, o primeiro sentimento é o de querer trabalhar em um local como aquele. Esse despertar é essencial”, comenta Gabriel, da Acate.

PROGRAMA DE INCENTIVO MUNICIPAL AJUDA A DESENVOLVER PROJETOS INOVADORES

Uma das políticas criadas para conectar os segmentos econômicos já estabelecidos na cidade a empreendedores e startups foi a criação dos Arranjos Promotores de Inovação (APIs), que hoje concentram setores como Economia Criativa, Tecnologia e demais atividades, sob liderança de entidades associativistas locais, como a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), a Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) e a Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (ACIF).

Por meio destas APIs, empreendedores podem desenvolver novos projetos para resolver demandas de cada setor e buscar recursos por meio do Programa de Incentivo à Inovação, no qual a prefeitura concede até 20% de isenção no IPTU ou no ISS de pessoas físicas  ou jurídicas para investir em negócios tecnológicos e inovadores no município. As empresas selecionadas têm até dois anos para buscar financiamento junto aos incentivadores, com teto de R$ 180 mil por projeto.

A iniciativa já tem inclusive alguns cases de sucesso, como a startup Floripa Hike, um aplicativo de promoção do turismo ecológico que também permite a usuários avisar a Prefeitura sobre problemas como desmatamento, queimada, erosão e lixo na cidade e em locais de preservação ambiental. “O empurrão para o início do projeto deu certo, os empreendedores validaram a solução e agora podem escalar a ideia para outras cidades”, explica o superintendente.

Outra startup que se beneficiou do programa foi a Smart Tour, que criou inicialmente uma plataforma para criação de rotas turísticas inteligentes e recentemente adaptou sua inovação para monitorar, por meio de QR Code, pessoas com Covid-19 – o sistema já está sendo utilizado no comércio e no sistema de transporte público de Florianópolis. Neste ano, uma das ideias inovadoras que conseguiu captar recursos pelo Programa de Incentivo à Inovação foi a Nohs Somos, ferramenta web com mapa de avaliação de locais inclusivos e seguros à comunidade LGBTI+ e que também terá um aplicativo com outros serviços.

Segundo Marcus Rocha, apesar da crise provocada pela pandemia, que deve reduzir as receitas do município neste ano, a perspectiva é disponibilizar cerca de R$ 4 milhões em renúncia fiscal para que empresas e pessoas físicas possam apoiar projetos de inovação na cidade. “Os arranjos do setor público e do setor privado, quando estão alinhados com a sociedade, andam muito bem“, resume.

“A colaboração é o grande diferencial da cultura de inovação presente no ecossistema de Florianópolis. O trabalho nos Centros de inovação não poderia ser diferente. Os prédios são somente a estrutura física, o corpo, mas a “alma”, os empreendedores, profissionais, investidores e estudantes, são o mais importante. Colocá-los trabalhando em rede é o que permite um aprendizado acelerado e um crescimento mais uniforme de todas as regiões de Santa Catarina”, resume Gabriel.

 

Fonte: SC Inova.