Por que é preciso uma transformação cultural para fazer inovação aberta?
O LinkLab é um programa de inovação aberta, onde corporates e startups se conectam para gerar projetos. A missão do programa é auxiliar corporates a encontrar fontes externas que ajudarão a resolver seus desafios, gerando projetos, novos produtos e, assim, também sendo inseridas no ecossistema de inovação.
Parece algo simples, corriqueiro, certo? Mas a realidade é mais complexa e trabalhosa. Grandes corporates devem passar por uma transformação cultural e se habilitarem para mudanças de estratégia a fim de permitir a inovação aberta.
Foi o que aconteceu com a P&G, um grande case de Open Innovation, há quase 20 anos. Em 2003, quando a P&G havia alcançado uma maturidade corporativa elevada, estavam presentes em diversos países e contavam com cerca de 7500 pesquisadores e equipe de P&D(Pesquisa e desenvolvimento), eles perceberam que investir cada vez mais na inteligência interna deixou de ser diretamente proporcional ao seu retorno. Então A.G. Lafley, CEO na época, reinventou o modelo de negócios da companhia, traçando a ambiciosa meta de que 50% de todas as inovações da empresa deveriam vir de fora.
Ao habilitar uma barreira permeável entre os times internos e as ideias e talentos externos, além de contar com 7500 pessoas internas, agora poderiam contar com milhões de mentes brilhantes pelo mundo afora. Entendendo este conceito, criaram o modelo de inovação chamado Connect and Develop. Larry Huston, VP de inovação na época, comenta que para incorporar o processo à empresa e se tornar rentável, ele precisou ser liderado de cima, e que se este modelo fosse aplicado somente como uma estratégia isolada do time de P&D, estaria fadado ao fracasso. A mudança precisou partir do próprio CEO, desencadeando uma profunda transformação cultural em todas as áreas da companhia.
AVISO: O conteúdo pode ser sensível para aqueles com aversão a ideia de mudar toda uma companhia, deixar de fazer o que fazem a décadas e reaprenderem a crescer agora e no futuro!
Steve Blank acredita que a maior parte das corporações faz “Inovação de Teatro” em vez de inovação de fato. Isso ocorre principalmente por que empresas estão quase inteiramente focadas em executar processos já existentes, tornando o ambiente tóxico para novas ideias e novos projetos que sejam integrados à estratégia e entregues de maneira rápida e rentável. A inovação só é possível se toda a companhia alinhar crenças e princípios e a solução é criar uma visão, uma cultura de inovação, que parte de dentro até o círculo mais externo da empresa, garantindo que exista uma política de recursos, procedimentos, cronograma e donos dos projetos durante todo o processo até sua entrega.
Existe urgência em buscar a inovação, e isso tem causado uma corrida para se relacionar com startups, que são capazes de introduzir rapidamente inovações e cultura. Essas conexões são de extrema importância, porém, é preciso ter mais direção que movimento. Pilotos e pitchdays são importantes e servem para aproximar importantes stakeholders dentro da corporate, porém não serão os verdadeiros drivers de mudança de cultura.
Do que é feita uma cultura de inovação?
Gary Pisano, professor na Harvard Business School, tem uma abordagem excelente que ajuda a entender como habilitar uma corporação à inovação. Neste artigo sobre o tema, Pisano adverte que conceitos comuns na cultura de inovação; como tolerância a erros, aptidão a experimentação, liberdade de opiniões, colaboração e gestão horizontal, podem parecer divertidos, mas devem ser contrabalanceados por outros mais duros e não tão animadores.
Muitas empresas não conseguem aplicar esses conceitos, justamente por não compreenderem a necessária contraparte. A tolerância a erros requer intolerância a incompetência, aptidão a experimentação requer rigorosa disciplina, liberdade de opiniões precisa de franqueza brutal, colaboração deve ser balanceada com auto responsabilização, e uma hierarquia horizontal requer forte liderança.
Apesar de paradoxal a cultura de inovação nasce do balanço muito bem orquestrado entre o caos e a ordem. Aqueles que estão à frente da doutrina da inovação como Blank e Gary sabem que fora disso nada concreto se realiza. Vemos isso ser reafirmado por Eric Ries, quando ele deixa claro que para inovar em meio a extrema incerteza e disrupção nos mercados de hoje, startups devem agir com rigor de experimentação científica, por meio da “Aprendizagem Validada”. É o mesmo conceito paradoxal que acabamos de ver.
Deve ser dos líderes o papel de implantar e cultivar o equilíbrio entre estes conceitos duros e complexos. Assim como ocorreu na P&G, toda mudança na organização começa com a mudança de si mesmo e é sempre mais efetiva quando feita a partir das lideranças, esse foi o ponto mais relevante para o sucesso do Connect & Develop.
Ao descer para o nível unitário, é preciso entender que mudanças são bonitas no papel, porém é necessário lembrar que mudanças acontecem e são realizadas a partir de pessoas. É importante que a empresa seja formada por bons profissionais, pois estes serão capazes de acompanhar e suportar a companhia durante a mudança de mindset. Técnicas e processos podem ser aprendidos, mas bons profissionais são aqueles que possuem agilidade, resiliência, tenacidade e curiosidade, características dificilmente treináveis. Um bom time será capaz de levar a cabo a transformação necessária, caso contrário, algumas pessoas podem ficar pelo caminho, como ocorre com grandes corporações que não são capazes de se adaptarem.
Quando a corporate se abre para inovação aberta com startups, independente do tipo de relacionamento, ela terá um caminho fértil e natural onde a cultura de inovação permite que fontes internas se somem às externas para geração de resultados.
O caminho é percorrido por cada corporação e a missão do LinkLab é orientar e criar grandes oportunidades de aprendizado e mudança de cultura, garantindo que os relacionamentos abundem em negócios e geração de valor!
*por Emilio Volpe de Oste – Fonte: LinkLab